Pintura corporal
Uma das características que mais marcam a cultura indígena,
é a pintura corporal que pode ser vista como tão necessária e importante
esteticamente como a roupa usada pelo “homem branco”. A pintura corporal para
os índios tem sentidos diversos, não somente na vaidade, ou na busca pela
estética perfeita, mas pelos valores que são considerados e transmitidos
através dessa arte. Feita de jenipapo, carvão ou urucum, tem como objetivo
diferir os povos, determinar a função de cada um dentro da aldeia e até mostrar
o estado civil. Algumas índias utilizam esse método, por exemplo, para “dizer”
que estão interessadas em encontrar um parceiro. O processo de preparação da
tinta consiste em ralar a fruta com semente e depois misturá-la com outros
pigmentos, como o carvão, para diversificar as cores.
Nos dias comuns, a pintura pode ser bastante simples, porém
nas festas, nos combates, mostra-se requintada, cobrindo também a testa, as
faces e o nariz. A pintura corporal é função feminina, a mulher pinta os corpos
dos filhos e do marido. Cada etnia tem sua própria marca e, se alguma outra a
utilizar, uma luta entre as aldeias pode ocorrer. A etnia Tenharim, do
Amazonas, faz desenhos de bolas em todo o corpo para se caracterizar. Homens
usam desenhos maiores para se diferenciarem das mulheres e imporem uma posição
de liderança. Já na aldeia Tapirapé, do Mato Grosso, homens podem usar as
mesmas figuras das mulheres, mas as mulheres não podem usar as dos homens.
Grafismo
Os indígenas buscam referências visuais nos elementos da
natureza, para a construção dos desenhos nas pinturas corporais. Para isso,
utilizam-se de pigmentos oriundos de vegetais e minerais geralmente encontrados
nas regiões onde habitam.
As
técnicas decorativas, bem como as suas simbologias, encontram, no corpo humano,
um dos seus suportes para a representação estética da arte plástica, que além
de uma manifestação artística, é também um registro etnoocultural. Essas mesmas
observações valem para os padrões encontrados nas pinturas dos utensílios
cotidianos, nas indumentárias e nos desenhos do espaço habitacional.
Os aspectos visuais, obtidos através da semiótica
apresentada na decoração corporal, remetem-nos à identidade de cada etnia,
quando são relatadas as mudanças sociais básicas decorrentes do processo
etário, hierarquia, gênero, entre outros.
Para
estabelecermos relações entre esses diferentes grupos humanos, promovendo a
interculturalidade, necessitamos de maiores estudos pela gama de informações
que eles nos oferecem. A arte indígena constitui-se um referencial importante
para os professores que pretendem desenvolver projetos interculturais,
constituindo-se uma porta de entrada a outras questões, pois nas sociedades
indígenas, a arte está relacionada a todos os outros aspectos da vida social,
diferentemente do conceito de arte na nossa sociedade.
Muito embora também utilizada em abanos, bancos, burdunas,
remos, redes, cerâmicas e demais produtos que constituem sua cultura material –
pois todos essas coisas possuem uma “pele”, e por conseguinte precisam ser
ornamentadas –, é no corpo humano que o indígena encontra o suporte por
excelência de sua pintura, “tela onde os índios mais pintam, e aquela que
pintam com mais primor” (Darcy Ribeiro), nele aplicando todo um repertório de
padrões decorativos – meandros, gregas, círculos, triângulos, pontilhados,
caprichosas estilizações geométricas calcadas na fauna e na flora, sinais
indicativos de caminho, direção etc.
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